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Projetos sociais levam produtos de pequenos agricultores a famílias de baixa renda do país
Em SP, o Campo Favela do Insper já beneficiou 250 famílias de agricultores e 23 mil lares de baixa renda das periferias. Ideia é ampliar essas iniciativas e torná-las sustentáveis.
Projetos sociais estão levando produtos dos pequenos agricultores aos lares das famílias de baixa renda do país. Com isso, essas iniciativas estão conseguindo melhorar, ao mesmo tempo, a vida das populações mais pobres das cidades e a dos pequenos produtores rurais, que foram fortemente impactados pela crise provocada pandemia do coronavírus.
É o caso, por exemplo, do projeto Campo Favela, criado por professores e alunos do Instituto de Ensino e Pesquisa de São Paulo (Insper). Com a chegada da pandemia, eles passaram a arrecadar dinheiro na internet para comprar alimentos de pequenos produtores rurais e levá-los para as regiões mais pobres da cidade de São Paulo.
Até o momento, a iniciativa do Insper conseguiu arrecadar mais de R$ 1 milhão e comprar quase 300 toneladas de alimentos direto do produtor rural.
Com isso, foram beneficiadas, de um lado, 250 famílias de agricultores e, de outro, 23 mil lares de baixa renda das periferias.
“Se você recebe algo que vem direto do campo e chega aqui pra nós com a qualidade que tem chegado esses alimentos, de forma organizada, isso transforma a vida das pessoas. O que eu espero é que essa parceria se perpetue, por muitos e muitos meses e por anos”, diz a arquiteta Ester, de 25 anos, moradora do Jardim Colombo, uma comunidade que faz parte do conjunto de favelas de Paraisópolis e que está sendo beneficiada pelo projeto Campo Favela.
A história dela se entrecruza com a produção de alimentos. Em sua comunidade, ela transformou um terreno abandonado em um projeto de horta urbana que, inclusive, seria apresentado na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, se não fosse a chegada da pandemia.
A 100 km de onde mora Ester, em Piedade, o produtor rural Danilo também participa do Campo Favela, mas fornecendo alimentos. Ele cultiva alface junto com outras duas famílias. A verdura era vendida para a Ceagesp, a maior central de distribuição de alimentos do Brasil. Porém, com a pandemia, as vendas deles caíram 80%.
Para conter os prejuízos, eles tiveram que tomar uma decisão difícil: destruir mais de 20 mil pés de alfaces. “Querendo ou não, a gente tem custos né? Seja de transporte, seja para cortar. A gente precisa de funcionários ali para fazer esse serviço. Foi uma tristeza sabendo que muita gente precisa de algum alimento”.
Porém, por meio do projeto Campo Favela Danilo conseguiu escoar a produção de alface. Eles venderam mais de 15 mil pés para o projeto.
Doação para famílias do campo
Com a pandemia de Covid-19, os produtores rurais José Agenor Correa e Ivan Júnior Correa, que são pai e filho, respectivamente, tiveram muito medo da renda das famílias do assentamento onde vivem diminuir. O assentamento fica em Ipero, a duas horas de São Paulo.
Mas o medo durou pouco tempo. A partir de uma parceria com o Armazém Terra Viva, em Sorocaba (SP), eles passaram a trabalhar para encontrar canais de venda para os seus produtos e, com isso, passaram a fazer entregas de cestas de orgânicos em condomínios particulares, por exemplo.
Além disso, eles começaram a atuar como uma ponte entre os agricultores que precisam vender e institutos que querem comprar alimentos para doar para quem mais precisa.
Parte dos produtos foi vendida para o Instituto Auá, que utiliza verba da Fundação Banco do Brasil para apoiar a agricultura familiar. Algumas dessas doações foram parar em Inhaiba, um bairro rural de Sorocaba.
Parte das cestas de orgânicos foi distribuída para uma iniciativa chamada Ação Comunitária Inhayba que, além de atividades educativas, fornecia refeições diárias em seu refeitório. Porém, com a chegada da pandemia, o local passou a ser um ponto de doação de alimentos.
Ampliação das iniciativas
Muita gente tem se empenhado para ampliar iniciativas como essas. É o caso do economista e professor do Insper, Lars Meyer. Ele, que criou o projeto Campo Favela, estuda os custos de produção e distribuição na agricultura familiar.
“O que a gente vê é de um lado da cadeia o produtor recebendo um valor abaixo do que seria um valor justo para todo o seu trabalho e, do outro lado, você vê famílias com dificuldade para pagar por um produto saudável”, diz Lars.
Por conta dessa situação, o próximo passo do economista é tornar este tipo de parceria sustentável no futuro, mesmo sem doações.
“Nessas regiões pobres, você tem os mercadinhos locais, sacolões, os hortifrutis. Eles não conseguem negociar uma quantidade grande e, consequentemente, acabam tendo que comprar mais caro. A nossa ideia é criar um modelo de distribuição que permita que os produtos saiam com menor número de intermediários direto do produtor para as favelas”, explica o professor do Insper.
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Imagem de capa: Projetos sociais levam produtos de pequenos agricultores a famílias de baixa renda do país — Foto: Reprodução/Globo Rural